Moderação bem dosada com firmeza. Foi esse o tom da entrevista do vice-governador Carlos Brandão (PSDB), pré-candidato à eleição que poderá renovar seu mandato ou encerrá-lo no dia 31 de Dezembro do ano que vem, publicada na edição de ontem do jornal O Estado. Provocado pelo jornalista Gilberto Leda, Carlos Brandão se mostrou favorável à união dos pré-candidatos da aliança partidária liderada pelo governador Flávio Dino (PSB) em torno de uma candidatura, mas manteve cautela e não respondeu se manterá essa posição se não for ele o escolhido. “Unidade é importante, mas nem sempre se consegue”, declarou, afirmando que trabalha por ela, mas deixando no ar dúvidas sobre sua posição quanto a um desfecho que não lhe seja favorável. Na verdade, ao longo da entrevista, marcada, vale dizer, por declarações equilibradas, o vice-governador construiu uma argumentação que leva naturalmente à conclusão de que ele dificilmente abrirá mão de ser candidato, com ou sem acordo.
A fundamentação do seu projeto de candidatura está nas suas três décadas de vida pública, ao longo das quais secretário-adjunto de Meio Ambiente, secretário de Articulação Política, secretário-chefe de Gabinete e chefe da Casa Civil na maior parte do Governo de José Reinaldo Tavares, além de dois mandatos de deputado federal e dois mandatos de vice-governador, tendo assumido o Governo em seis oportunidades. Além disso, enfatiza um item importante da sua trajetória de homem público: não responde a nenhum questionamento judicial sobre a sua integridade ética. “Nesses 30 anos de vida pública temos uma conduta muito ética, muito profissional, não respondemos a nenhum processo, temos vida limpa, ficha limpa”, declarou.
Carlos Brandão associa o seu projeto político à sua condição de vice-governador atuante, que conhece em profundidade o Governo do qual participa, tem ciência de todos os projetos, seus custos e seus objetivos e andamento, o que lhe dá as condições necessárias para dar continuidade ao que está dando certo, como os programas sociais, por exemplo. Isso foi possível pela afinidade com o governador Flávio Dino, a quem tem demonstrado lealdade inquestionável, garantindo uma relação de confiança que os dois têm feito questão de destacar nas manifestações em que participam juntos. “Eu vejo que o Maranhão não pode retroceder, que o Maranhão precisa continuar avançando, e eu, pelo fato de estar junto do governador Flávio Dino, entendo que tenho condições de dar continuidade a esse trabalho”, assinalou.
Político experiente, que passou por várias provas de fogo como chefe da Casa Civil do movimentado Governo José Reinaldo Tavares, tendo também sua cota de contribuição para a estabilidade política do Governo Flávio Dino, Carlos Brandão defende a carta em que líderes partidários entregaram ao governador Flávio Dino a tarefa de coordenar as articulações para a escolha deum candidato do grupo. Mas deixa nas entrelinhas sinais fortes de que não aposta alto no cumprimento desse roteiro, agora mais embaraçado com a entrada do secretário de Educação Felipe Camarão (PT) no jogo sucessório. Nesse ambiente, onde enfrenta a dura concorrência do senador Weverton Rocha (PDT), que faz uma pré-campanha forte, e agora a de Felipe Camarão, que trabalha sem descanso para conseguir o aval do PT à sua pré-candidatura, o vice-governador mostra que está se preparando para ser candidato, com ou sem acordo.
Enquanto essa definição não chega, o vice-governador vai intensificando sua pré-campanha, ora cumprindo apertada agenda de reuniões com lideranças políticas, ora fazendo visitas a municípios – hoje, por exemplo, ele cumpre programação em Serrano do Maranhão, Apicum-Açu, Bacuri e Pinheiro. O tom moderado da entrevista não reflete exatamente a ação política do pré-candidato do PSDB. Pelo simples fato de que Carlos Brandão tem consciência do peso que sua candidatura ganhará quando ele assumir o comando do Estado como governador titular.
E a julgar pela experiência que acumulou nesse tabuleiro como chefe da Casa Civil e agora como vice-governador, Carlos Brandão tem tudo para ser um concorrente difícil de enfrentar.//Repórter Tempo